O Empreendedorismo e a teoria das quatro castas

O EMPREENDEDORISMO E A TEORIA DAS QUATRO CASTAS
(à procura do empreendedorismo cívico)
José Monir Nasser

    “Em toda sociedade existem quatro castas, das quais a primeira se incumbe do guiamento espiritual, moral e intelectual, a segunda do poder político e militar, a terceira da organização da atividade econômica, a quarta dos trabalhos auxiliares e braçais”. Olavo de Carvalho

1. O filósofo Olavo de Carvalho nos ensina que o conceito de casta, diferentemente do conceito de classe, que é unidimensionalmente econômico, abrange um conjunto de dimensões que, juntas, influenciam a ação humana. O conceito de casta, sendo amplo e complexo, pode, por conseguinte, aplicar-se a qualquer agrupamento humano, até mesmo às próprias classes econômicas. No sentido que lhe dá Olavo de Carvalho, cada casta reflete uma determinada visão do mundo, uma determinada escala de valores que distingue os homens, a despeito de sua raça, de seu sexo, sua posição social ou econômica. E há quatro esferas de ação humana, logo apenas quatro castas.

2. Seguindo o raciocínio do filósofo, • A primeira casta lida com a esfera da inteligência (símbolos, idéias e crenças) e é habitada por todos aqueles incumbidos do guiamento espiritual, moral e intelectual;
• A segunda casta lida com a esfera de vontade (mando e obediência) é habitada por todos os que possuem poder político ou militar;
• A terceira casta lida com a esfera do desejo e de necessidade e é habitada por todos aqueles ligados à organização da produção;
• A quarta casta lida com a esfera do hábito (ou da ação sobre a matéria) e é habitada por todos os ligados a trabalhos auxiliares e braçais.

3. Se aceitarmos a possibilidade de um “corte vertical” de castas para qualquer agrupamento humano, deve ser também possível fazê-lo para o conjunto dos chamados empreendedores, mesmo porque a expressão “empreendedores” é muito genérica para poder significar, em si, alguma coisa, além de uma certa conotação de romantismo empresarial, como protagonizado pelos rockeffeleres, matarazzos e billgates.

4. Comecemos de baixo para cima: haverá, no grupo social dos empreendedores, indivíduos de quarta casta, ou seja, voltados para ação sobre a matéria ou, em outras palavras, indivíduos que atribuem a outrem as decisões que irão influenciar a sua própria vida? Por mais paradoxal que pareça, por mais que haja choque com o sentido popular da palavra empreendedor, temos que admitir que a esta casta pertencem todos os empreendedores que se vêem no mundo dos negócios como apenas uma engrenagem de uma grande máquina que os transcende e o subordina. Vistos deste modo, muitos franqueados do MacDonald’s, por exemplo, são na verdade “gerentes” de um negócio tentacular de cujo sistema nervoso eles não fazem parte. No entanto, cuidado: em Tóquio há duas lanchonetes do MacDonald’s na mesma quadra, com resultados muito diferentes. Seus proprietários pertencem, na verdade, a castas diferentes. A chave do enigma esta em que podemos aplicar a distribuição por quatro castas também para o conjunto de franqueados do MacDonald’s. Daí a diferença entre eles: há franqueados de primeira, segunda, terceira e quarta castas.

5. No entanto, quando a maioria das pessoas pensa em empreendedor, não pensa na quarta casta, mas parece estar falando, na verdade, de empreendedores de terceira casta: os indivíduos que não aceitam que outra pessoa escreva o roteiro de sua vida e produzem ações de organização econômica voltadas para a satisfação dos seus próprios desejos e necessidades. É justamente esta casta que é louvada e desejada como “estoque” social renovador da vitalidade econômica. Para este tipo de empreendedor (como se ele fosse o único), há todo tipo de apoio institucional, desde ensinar rudimentos no ensino fundamental, até cursos superiores e ações governamentais de porte. No entanto, sem desmerecê-lo – porque todas as castas têm valor – segundo o pano de fundo de nosso raciocínio , este indivíduo é apenas um tripulante de terceira casta e nada mais. Muito peculiar é o destino desta terceira casta quando ela se consolida socialmente: os empresários tornam-se um grupo especialmente acorvadado ante o poder político, temendo miseravelmente pela durabilidade do seu status quo. Nada mais nada menos do que a antítese da bravura que lhe era reconhecida no início da carreira.

6. Isto significa que há outros empreendedores há que extrapolam os limites do desejo e das próprias necessidades para se referirem a um grupo maior de interesses, muito embora ainda corporativos. Esta casta, a segunda, exerce o comando político do grupo e tem, sempre segundo Olavo de Carvalho, o poder simultâneo de destruir e impedir. Esta casta governante assume as posições de controle dos organismos representativos empresariais, como sindicatos patronais, federações, associações comerciais e é caracterizada por transpor a referência pessoal, típica dos empreendedores de segunda casta e representar um grupo maior, mesmo que claramente em oposição a outros grupos sociais com interesses conflitantes. Deste modo, um líder político empresarial como Mário Amato pode estar em franca oposição a um líder político trabalhista como Lula, sem que ambos percam sua posição de casta governante nas respectivas classes. A condição de ambos não se estabelece por concordarem, mas justamente por discordarem.

7. Por fim e por força do caminho dialético que tomamos, há de haver entre os empreendedores uma casta intelectual, clerical, habitada por todos aqueles encarregados do guiamento espiritual da comunidade de empreendedores. Estes indivíduos, por estarem na casta mais alta, o que, repito, não implica na desvalorização ad limine das outras, transcendem necessariamente as fronteiras do próprio grupo. Quanto mais acima, mais ecumênico, mais integrador. Estas pessoas dão sentido existencial à atividade empreendedora das três outras castas, logo são fundamentalmente integradoras do empreendedorismo com as outras dimensões humanas. Estes são os Barões de Mauá. Chamamos a estas pessoas empreendedores cívicos, habitantes da primeira casta de que diz Olavo de Carvalho “São as pessoas que dispõem concretamente dos meios para moldar ou influenciar, por sua atuação pessoal, as idéias e sentimentos de coletividade”. Estes empreendedores não dirigem a comunidade empresarial. Eles escrevem o roteiro do poder político exercido por empreendedores da segunda, da organização econômica exercida pela terceira e das ações concretas da quarta, inserindo todo o grupo na grande viagem de humanidade, por meio de interações fertilizantes com as outras dimensões da vida. Como para cima tudo converge, podem ser empreendedores cívicos pessoas de quase toda atividade. Embora o termo “empreendedorismo cívico” tenha mais afinidade terminológica com os empreendedorismos de outras castas, nada impede que se o generalize no âmbito das substâncias e não das formas. Quando mais próximos as castas mais baixa, mais prisioneiros seremos da forma; quanto mais próximos das castas mais altas, mais sintonizados com a substância.

8. É fundamental, portanto, na próxima vez que nos depararmos com a expressão “empreendedorismo”, perguntarmos a qual das quatro castas nosso interlocutor está se referindo. Afinal perceber a diferença entre as quatro castas pode não ser solução para tudo, mas certamente lança um pouco de luz nessa escuridão.

Sds,

2 Respostas to “O Empreendedorismo e a teoria das quatro castas”

  1. Os números de 2010 « Maccormick’s Blog Says:

    […] O Empreendedorismo e a teoria das quatro castas maio, 2009 5 […]

  2. Unnica Says:

    […] popularmente, da diferença de empreendedor e empresário. Segundo José Monir Nasser, dentro da 3ª casta, temos os 4 perfis, que atuam no âmbito empresarial, […]

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